terça-feira, 22 de novembro de 2011

CHANGES

Eu venho mudando há tanto tempo
Que estranhei ao ouvir o quanto mudei.
Mudar não é uma coisa sutil somente aos olhos
É real e pode ser notada à distância.
Eu não pedi pela mudança
Violão sem cordas a me encarar
Eu não sofri pelos finais imprecisos.
Amigos que se reúnem mudados.
Tempo que passa obrigatoriamente.
Eu não criei o futuro.
Eu não pedi por olhos indecisos.
As coisas são o que parecem ser
Se não parecem, eis o disfarce perfeito. 

Eu disse a mim mesmo que mudei 
Um dia, ou outro.
Lembro-me daquelas fugas inseguras
Dos olhos indecisos.
Daqueles passos imprecisos.
De todos os finais a mim,
Atribuídos...
Eu venho mudando há tanto tempo.
Que nem notei pela mudança...

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

CONQUISTAS

Abandonou toda aquela certeza,
   Agora, 
Obsoleta tão somente.

Em uma cálida paz,
       Pomposa voz,
                         Aparente tez.

Tomou posse de si mesmo, 
   Outrora, 
Quase simplesmente.

Em uma gélida paz,
       Grossa voz,
                     Clara tez.

Calou um destino que inexistia,
   Agora, 
Menos que intensamente.

Em uma insensata paz,
       Doce voz,
                  Mesma tez.

Tornou o que era escuro, claro,
   Outrora,
Muito facilmente.

Em uma aparente paz,
       Sacrificada voz,
                             Ludibriada tez.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

RÉQUIEM DE FINADOS (PLEONASMO DA SAUDADE)


Dedicado a Memória de Ricardo Chiaretto Fernandes (1973-1991)

Certa vez eu perdi um amigo para O Outro Lado da Montanha.
Dizem que os bons morrem jovens.
Mas não somos quase todos bons quando jovens?
Ao menos ele partiu tendo experimentado o gosto de um beijo.

Certa vez eu perdi um amigo para a Ida em Vão.
Uma dor forte. Uma dor que estraçalha o corpo.
Uma dor que dói tão fundo que não volta mais à superfície.
Aquela dor que foi disfarçada pela falsa segurança,
Da juventude.
Uma falta de choro escondida por uma estúpida e insistente,
Quietude.
Ao menos ele partiu tendo experimentado o gosto da paixão.

Certa vez eu perdi um amigo para o Sono dos Justos
O que dói não é a partida, a ida, a despedida,
Mas a ausência e a lembrança que não conforta,
Dilacera. Sem dó. Sem piedade.
O que dói não é a notícia,
São aqueles olhos que outrora eram brilhantes, extasiantes,
E se apresentam cerrados, frios. Imóveis.
Ele partiu e não sei se por teimosia, não cumpriu, ainda, nosso acordo.

Certa vez eu perdi um amigo em um passado muito distante.
“Quem morrer primeiro volta pra dizer como é?”
“Feito”.
Não houve volta. Não houve notícias. Não houve absolutamente,
Nada.
Só há as fotos. Velhas. De papel ainda.
Como que para me lembrar que o tempo passa. Que envelhecemos.
Mas o maior problema, não são as fotos e a saudade
Que corroem as pessoas que por aqui ficaram.
Não é a vontade de vê-lo novamente e sonhar que talvez isso seja possível.
É muito pior.
Por mais que eu olhe, cada vez mais espaçadamente,
Aquelas velhas fotos um pouco amassadas,
Pareço não reconhecer mais aquele rosto.
Lembranças fortes também se esvaem.

E é isso que mais dói.
Insistentemente...