quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

FÓRCEPS

Eu naufraguei em barcos feitos de doces ilusões 
Eu voei em pássaros fabricados de desilusões 
Eu me perdi em labirintos de vinhos tintos 
Eu me suicidei tantas vezes que perdi a conta.

Eu torturei meus sonhos com falsas ilusões 
Eu inflei balões para levantar desilusões 
Eu me afoguei em cores de vinhos tintos 
Eu me fabriquei tantas vezes que perdi a conta. 

Eu me iludi com o sol a me suar emoções 
Eu me desiludi com meu excesso de imaginação 
Eu me busquei na transparência do vinho branco 
Eu me perdi tantas vezes que perdi a conta.

Eu fui um fracassado caçador de emoções 
Eu não me encontrei na overdose de imaginação 
Meus dias não são tão claros como o vinho branco 
Eu me salvei tantas vezes que perdi a conta.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

INSUSTENTÁVEL

A alma é aquilo que é leve.

Mas ela não se sustenta.
O que é etéreo não se sustenta.
O que é falso não se sustenta.

Mas a alma é falsa?

O que é alma não se sustenta.
A falsidade é etérea.
O que é leve não se sustenta.

A culpada é a alma.

Mas a alma não se sustenta.
Quanto mais falso mais se suspeita.
A culpa não se sustenta.

A alma da culpa.

A alma é o que se suspeita.
A culpa por si se sustenta.
Mas a alma não se sustenta.

O corpo e a alma.

O corpo carrega a culpa.
A culpa estampada na alma.
Mas a alma não se sustenta.

A alma é aquilo que é leve?

sábado, 11 de dezembro de 2010

CORSÁRIO

                   I       
Sou meu próprio corsário

                   II
Há dias que me mato
Outros me ressuscito

                   III
Mas na maioria das vezes
Basta-me um sonho.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

RÉQUIEM

Meu enterro será simples,
Sem cantorias deprimentes,
Nem ninguém a cercar o meu caixão.

Meu enterro será simples,
Sem flores que cheiram à morte,
Choros falsos que não denotem paixão.

Meu enterro será simples,
Sirvam empadinha e pão de queijo,
E se sentem em qualquer lugar, ou no chão.

Meu enterro será simples,
Será em dia de clássico de futebol,
Abaixem o som da TV, poupem-me de emoções...

Ou tampem o ataúde...

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

VERMELHA LUA

A mesa guardava o barulho da velhice.
As paredes seguravam firmes seus medrosos tijolos.
O telhado tremia de frio com o vento.
A chuva hesitou em cair naquela casa.
A estante não quis mais abrir sua boca.
O fogão não esquentava mais as almas.
O sofá se retirou pra dentro de si.
O chão parecia querer correr.
E as camas estavam adormecidas...

Os sapatos corriam como loucos.
As sandálias fugiam de puro pavor.
Os objetos atacavam o chão.
As escadas tropeçaram na corrida.
A faca brilhou como se estivesse lavada.
A lua iluminou a vermelhidão.
O grito ecoou pela casa silenciosa.
As cobertas não fizeram mais que cobrir,
As camas insistentemente adormecidas...

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

EM BAR


Não.
Não é uma noite qualquer.

Requer concentração. Busca.
Às vezes desenfreada.
O coração fica aos pulos.
Mas o alarme é falso.

Requer rostos. Concentração.
A procura continua inválida.
O coração mantém-se aos pulos.
Mas o alarme se alarma.

Não.
Não é uma noite qualquer.

Requer esperança. Corpos.
Cessam-se os olhares.
O coração se desanuvia.
Não há mais alarme.

Não.
Não é uma noite qualquer.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

CARAS

São caras as caras.

Aquela de nojo ao me ver.
Aquela de longe a me fitar.
Aquela que vira ao me olhar.

Caros, que me venham as caras.

O sorriso esmerado e falso.
A tristeza que escorre salgada.
O dedo na boca a pedir silêncio.

São caras todas as caras.

Que dormem tranquilas e felizes.
Que respondem com queixos e deslizes.

Tudo aquilo que é cara, é caro.
Claro.